A poderosa
vitamina D
Os livros didáticos disponíveis atualmente ensinam
que a vitamina D é essencial na formação dos ossos e dentes. Mas esses textos
precisarão ser reformulados para acrescentar uma longa lista de benefícios
descobertos recentemente, que revelam que a substância faz muito mais pelo
organismo do que se imaginava. Ela ajuda a emagrecer, fortalece o sistema de
defesa do organismo, auxilia na prevenção e tratamento de doenças como a
diabetes e a hipertensão e está associada a uma vida mais longa – para falar
somente de alguns de seus efeitos positivos. Por essa razão, a vitamina
tornou-se a mais nova queridinha dos médicos em todo o planeta. Muitos já estão
solicitando a seus pacientes que meçam sua concentração no corpo e façam sua
reposição se assim for necessário
A outra comprovação inquestionável do poder
abrangente da vitamina no corpo humano veio de uma ampla revisão de trabalhos
científicos realizada pela Sociedade Americana de Endocrinologia cujo resultado
foi divulgado há dois meses. “Ela age no coração, no cérebro e nos mecanismos
de proliferação e inibição de células, entre outros sistemas”, disse à ISTOÉ o
bioquímico Anthony Norman, professor da Universidade da Califórnia (EUA), um
dos maiores estudiosos do tema e integrante do comitê responsável pela compilação
de dados a respeito do assunto.
Muito do que se sabe a respeito dos novos
benefícios da substância é referente à diabetes tipo 2, que hoje exibe
proporções epidêmicas no mundo. Trabalhos demonstram que níveis baixos da
substância estão relacionados a uma disfunção ligada à origem da doença chamada
resistência à insulina. A insulina é o hormônio que permite a entrada, nas
células, da glicose circulante no sangue. No caso da diabetes tipo 2, ela não
consegue cumprir sua função corretamente e o resultado é o acúmulo de glicose
na circulação sanguínea, o que caracteriza a enfermidade.
Uma das pesquisas a evidenciar a relação vitamina
D- diabetes tipo 2 foi feita pelo cientista Micah Olson, da Universidade do
Texas (EUA). Ele mediu os níveis da vitamina, de glicose e de insulina no
sangue de 411 crianças obesas e 87 não obesas. “As obesas com níveis mais
baixos do composto tinham maior grau de resistência à insulina”, disse. Em
adultos, dá-se o mesmo. No mês passado, estudo publicado na revista “Diabetes
Care” mostrou que pessoas com pequena quantidade da substância apresentavam 32
vezes mais resistência à insulina do que a média dos voluntários avaliados.
A informação do papel da vitamina no
desenvolvimento da enfermidade mudou a conduta médica. A endocrinologista Maria
Fernanda Barca, de São Paulo, membro da Sociedade Americana de Endocrinologia,
por exemplo, é uma das que já indicam sua reposição, se for preciso. “Quando
comecei a pedir dosagens, vi que cerca de 70% dos pacientes estavam com
carência ou insuficiência da substância”, diz. Também já existe um consenso
científico de que, quanto mais obesa a pessoa, menos vitamina D ela apresenta.
Não está claro, porém, se a obesidade por si só diminui a presença da vitamina
no organismo ou se é o contrário. Mas, mesmo sem conhecer os mecanismos pelos
quais a baixa concentração da substância contribui para o acúmulo de gordura,
os médicos estão incluindo sua reposição na lista de estratégias mais recentes
na briga contra a balança. Só por ajudar no controle da diabetes e da obesidade
– dois fatores de risco para doenças cardíacas –, a vitamina já poderia ser
chamada de aliada do coração. No entanto, descobriu-se que ela combate também a
hipertensão, bloqueando a ação de uma enzima envolvida na elevação da pressão
arterial. “Por isso, pode ser dada como coadjuvante no tratamento da doença, se
for comprovado seu déficit”, afirma Aluízio Carvalho, professor de nefrologia
da Unifesp.
Até as complexas doenças autoimunes se revelam
sensíveis à vitamina. Essas enfermidades são desencadeadas por uma disfunção do
sistema de defesa que faz com que ele comece a atacar o próprio organismo. Ataca-se
proteínas localizadas nas articulações, deflagra a artrite reumatoide. Se forem
células da pele, há vitiligo ou psoríase. Nesse campo, a substância também tem
sido vista como uma esperança, inclusive para pacientes de esclerose múltipla,
enfermidade autoimune que acomete células nervosas e leva à perda gradual dos
movimentos. Já se sabe que o seu avanço é mais rápido em quem convive com
níveis baixos da substância, conforme documentou um estudo da Universidade de
Maastricht, na Holanda, a partir do acompanhamento de 267 pessoas com a
doença.
É por essa razão que hoje os especialistas
encontram-se preocupados. Ao mesmo tempo que fica cada vez mais clara sua
importância para a saúde, o mundo enfrenta uma espécie de epidemia de déficit
da substância. Segundo a Organização Mundial da Saúde, metade da população
mundial tem menos vitamina D do que precisa. De acordo com a OMS, há
insuficiência quando o exame de sangue indica uma concentração menor do que 30
ng/ml (nanogramas por mililitro de sangue). Valores abaixo de 10 ng/ml são
classificados como insuficiência grave. Dosagens iguais ou superiores a 30
ng/ml estão na faixa da normalidade, cujo limite máximo é 100 ng/ml.
A vitamina D é encontrada em pequenas
quantidades em alimentos animais na forma de colecalciferol (D3). Nenhum
vegetal, fruta ou grão contém vitamina D em quantidade detectável. O mesmo
acontece com carnes e peixes com baixo teor de gordura.
A vitamina D é estocada no fígado, o que faz
com que este órgão seja boa fonte. É encontrada em pequenas quantidades na
manteiga, nata, gema de ovo e fígado e em grande quantidade no óleo de fígado
de peixes como lambari, bacalhau, arenque e atum. Tanto o leite materno como o
de vaca são fontes pobres desta vitamina. Nos seres humanos, a vitamina D3 é formada na
pele, pela ação dos raios ultravioletas da luz solar sobre um elemento
(7-deidrocolesterol) presente na epiderme.
A enorme deficiência se deve principalmente à pouca
exposição ao sol que as pessoas têm atualmente. Para que seja sintetizada na
quantidade adequada, recomenda-se a exposição de partes do corpo (braços e
pernas, por exemplo) entre 20 e 30 minutos ao sol diariamente, sem filtro
solar. Ou, como orienta outra corrente, expor 15% da superfície da pele
(equivale a dois braços) pelo menos três vezes por semana, com filtro solar. E,
nesse caso, fazer complementação com suplementos receitados a partir da necessidade
individual de cada um, PARA EVITAR OS RISCOS DO EXCESSO, onde os sintomas de
intoxificação por excesso de vitamina D incluem diarreia, náusea e cefaleia; a
complicação mais grave é o aumento dos níveis de cristais de cálcio no sangue,
o que pode levar a depósitos nos rins, coração e outros tecidos, causando
lesões irreversíveis.
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