domingo, 17 de agosto de 2014

O que é overtraining e como a nutrição participa nesse processo.




O que é overtraining e como a nutrição participa nesse processo:

É comum atletas e não atletas excederem os limites de suas capacidades físicas e psicológicas ocasionando o desenvolvimento da síndrome do excesso de treinamento (overtraining), a qual é definida como um distúrbio neuroendócrino (hipotálamo-hipofisário) que resulta do desequilíbrio entre a demanda do exercício e a possibilidade de assimilação de treinamento, acarretando alterações metabólicas, com consequências que abrangem não apenas o desempenho, mas também outros aspectos fisiológicos e emocionais (ROHLFS et al, 2005), bem como, alterações nos níveis de serotonina cerebral podem ser associadas ao aparecimento do estado de fadiga física, que pode se estabelecer de forma crônica, constituindo-se um dos sintomas do quadro de  overtraining.
Existem dois tipos de fadiga: a fadiga aguda e a fadiga crónica. A fadiga crónica acontece pela convergência de fatores de stress físico e psicológico, que levam o atleta a entrar numa situação em que não consegue recuperar das sessões de treino. À medida que a fadiga crónica se instala, a recuperação diminui drasticamente levando, em ultima instância, à diminuição da adaptação ao treino por parte do atleta. Geralmente, o atleta tem a capacidade de recuperar e de se adaptar, num período de tempo relativamente curto. A sobrecarga resultante do treino de grande volume ou de alta intensidade, num curto período de tempo (um microciclo) é designada de overreaching, ou se preferir fase de sobrecarga. Quando em overreaching por um longo período de tempo, a fadiga crónica instala-se, podendo levar ao overtrainig; assim, podemos associar o overreaching, à redução da performance a curto prazo, como resultado da acumulação de fadiga a partir de agentes associados ou não ao treino.
Tem sido valorizada a hipótese de que o exercício afeta o metabolismo de proteínas e aminoácidos e que esses contribuem significativamente para o rendimento durante o exercício prolongado. A serotonina tem um papel importante na investigação do desenvolvimento da fadiga central; lembrando que fadiga periférica afetam os músculos e fadiga central, o cérebro, e esta atua na formação da memória, na letargia, no sono, no humor, na supressão do apetite e nas alterações na percepção do esforço.
Alterações induzidas pelo treinamento no metabolismo de nutrientes têm sido propostas como um dos fatores contribuintes para síndrome do excesso de treinamento. A “Hipótese da Fadiga Central” relaciona os sinais e sintomas da síndrome com sintomas semelhantes aos que ocorrem quando a concentração do neurotransmissor cerebral, a serotonina, aumenta; o nível de serotonina cerebral depende do triptofano livre no plasma, que, por sua vez, aumenta quando a concentração de ácidos graxos livres aumenta. Devido ao aumento dos níveis plasmáticos de ácidos graxos livres durante o treinamento de resistência, essa teoria propõe que os níveis de serotonina cerebral aumentem quando o treinamento é excessivo. E de acordo com Vieira (2007), as concentrações de glutamina plasmática e muscular influenciam no processo de imunomodulação. Desta forma, a sua diminuição estará envolvida nos processos de exaustão; sendo que as alterações fisiológicas, como concentração de glicose sangüínea, glicogênio muscular e hepático, bem como a relação entre triptofano livre e aminoácidos de cadeia ramificada, irão afetar diretamente a performance, na qual irão culminar no desencadeamento da síndrome do overtraining. Deste modo, devemos realizar um treinamento onde se deve adequar a intensidade e o volume de esforço, respeitando o adequado período de recuperação, pois isso será fundamental para a ressíntese dos substratos energéticos; onde, Williams et al (2003) estabeleceu a relação entre o glicogénio e a performance, recomendando suplementos recuperadores ricos em hidratos de carbono e proteína como forma cabal de repor os níveis de glicogénio. Uma das formas eficazes de prevenir o overtraining é nos dias anteriores a uma competição ou fase de carga, aumentar a ingestão em 200-300g de hidratos de carbono em relação ao habitual, usando refeições ou suplementos ricos em proteína e hidratos de carbono antes, durante e após o exercício ou competição. No que se refere à utilização de hidratos de carbono durante o treino, aparentemente a ingestão deverá ser de 8-10g durante períodos de treino/competição intensa. Poderão ser utilizadas durante esta fase, fontes hidratos de carbono de índice glicémico baixo a moderado como por exemplo, frutas, cereais integrais e amidos.  Em relação a proteína, Lemon et al (1992), para aumentar a síntese proteica, diminuir o tempo de recuperação e manter um balanço nitrogenado positivo em atletas envolvidos em treino de alta intensidade, é necessária uma ingestão na ordem de 1.5-2.0 g/kg/dia; e quando estas metas de ingestão proteica não são atingidas o risco de sub-rendimento e overtraining aumenta. Então, através destes cuidados, podemos minimizar ou quem sabe, evitar o aparecimento do overtraining, no qual, quando identificada, provoca declínios acentuados no desempenho do atleta.


Referências Bibliográficas:

1. LEMON PW et al. Protein requirements and muscle mass/strength changes during intensive training in novice bodybuilders. J Appl Physiol. 1992; 73(2):767—775.
2. ROHLFS, I C P de M; et al. Relação da síndrome d excesso de treinamento com estresse, fadiga e serotonina. Rev Bras Med Esporte vol. 11 nº6 Niterói Nov./Dec. 2005.
3. VIEIRA,  A K. Alterações hormonais, imunológicas e fisiológicas durante o estado de overtraining. Ver Bras de Nutrição Esportiva. São Paulo. V. 1, Nº 2, p. 23 – 29. Mar/Abril. 2007.
4. WILLIAMS MB et al. Effects of recovery beverages on glycogen restoration and endurance exercise performance.  J Strength Cond Res. 2003; 17(1):12-9.