O
que é overtraining e como a nutrição participa nesse processo:
É
comum atletas e não atletas excederem os limites de suas capacidades físicas e psicológicas
ocasionando o desenvolvimento da síndrome do excesso de treinamento
(overtraining), a qual é definida como um distúrbio neuroendócrino (hipotálamo-hipofisário)
que resulta do desequilíbrio entre a demanda do exercício e a possibilidade de
assimilação de treinamento, acarretando alterações metabólicas, com
consequências que abrangem não apenas o desempenho, mas também outros aspectos fisiológicos
e emocionais (ROHLFS et al, 2005), bem como, alterações nos níveis de serotonina
cerebral podem ser associadas ao aparecimento do estado de fadiga física, que pode
se estabelecer de forma crônica, constituindo-se um dos sintomas do quadro
de overtraining.
Existem
dois tipos de fadiga: a fadiga aguda e a fadiga crónica. A fadiga crónica acontece
pela convergência de fatores de stress físico e psicológico, que levam o atleta
a entrar numa situação em que não consegue recuperar das sessões de treino. À
medida que a fadiga crónica se instala, a recuperação diminui drasticamente
levando, em ultima instância, à diminuição da adaptação ao treino por parte do
atleta. Geralmente, o atleta tem a capacidade de recuperar e de se adaptar, num
período de tempo relativamente curto. A sobrecarga resultante do treino de
grande volume ou de alta intensidade, num curto período de tempo (um
microciclo) é designada de overreaching, ou se preferir fase de sobrecarga.
Quando em overreaching por um longo período de tempo, a fadiga crónica
instala-se, podendo levar ao overtrainig; assim, podemos associar o
overreaching, à redução da performance a curto prazo, como resultado da
acumulação de fadiga a partir de agentes associados ou não ao treino.
Tem
sido valorizada a hipótese de que o exercício afeta o metabolismo de proteínas
e aminoácidos e que esses contribuem significativamente para o rendimento durante
o exercício prolongado. A serotonina tem um papel importante na investigação do
desenvolvimento da fadiga central; lembrando que fadiga periférica afetam os
músculos e fadiga central, o cérebro, e esta atua na formação da memória, na
letargia, no sono, no humor, na supressão do apetite e nas alterações na
percepção do esforço.
Alterações
induzidas pelo treinamento no metabolismo de nutrientes têm sido propostas como
um dos fatores contribuintes para síndrome do excesso de treinamento. A
“Hipótese da Fadiga Central” relaciona os sinais e sintomas da síndrome com
sintomas semelhantes aos que ocorrem quando a concentração do neurotransmissor cerebral,
a serotonina, aumenta; o nível de serotonina cerebral depende do triptofano livre
no plasma, que, por sua vez, aumenta quando a concentração de ácidos graxos
livres aumenta. Devido ao aumento dos níveis plasmáticos de ácidos graxos livres
durante o treinamento de resistência, essa teoria propõe que os níveis de
serotonina cerebral aumentem quando o treinamento é excessivo. E de acordo com
Vieira (2007), as concentrações de glutamina plasmática
e muscular influenciam no processo de imunomodulação. Desta forma, a sua diminuição
estará envolvida nos processos de exaustão; sendo que as alterações fisiológicas,
como concentração de glicose sangüínea, glicogênio muscular e hepático, bem
como a relação entre triptofano livre e aminoácidos de cadeia ramificada, irão
afetar diretamente a performance, na qual irão culminar no desencadeamento da
síndrome do overtraining. Deste modo, devemos realizar um treinamento onde se
deve adequar a intensidade e o volume de esforço, respeitando o adequado
período de recuperação, pois isso será fundamental para a ressíntese dos
substratos energéticos; onde, Williams et al (2003) estabeleceu a relação entre
o glicogénio e a performance, recomendando suplementos recuperadores ricos em
hidratos de carbono e proteína como forma cabal de repor os níveis de
glicogénio. Uma das formas eficazes de prevenir o overtraining é nos dias
anteriores a uma competição ou fase de carga, aumentar a ingestão em 200-300g
de hidratos de carbono em relação ao habitual, usando refeições ou suplementos
ricos em proteína e hidratos de carbono antes, durante e após o exercício ou
competição. No que se refere à utilização de hidratos de carbono durante o
treino, aparentemente a ingestão deverá ser de 8-10g durante períodos de
treino/competição intensa. Poderão ser utilizadas durante esta fase, fontes
hidratos de carbono de índice glicémico baixo a moderado como por exemplo,
frutas, cereais integrais e amidos. Em
relação a proteína, Lemon et al (1992), para aumentar a síntese proteica,
diminuir o tempo de recuperação e manter um balanço nitrogenado positivo em
atletas envolvidos em treino de alta intensidade, é necessária uma ingestão na
ordem de 1.5-2.0 g/kg/dia; e quando estas metas de ingestão proteica não são
atingidas o risco de sub-rendimento e overtraining aumenta. Então, através
destes cuidados, podemos minimizar ou quem sabe, evitar o aparecimento do
overtraining, no qual, quando identificada, provoca declínios acentuados no
desempenho do atleta.
Referências Bibliográficas:
1. LEMON PW et al. Protein requirements and muscle
mass/strength changes during intensive training in novice bodybuilders. J Appl
Physiol. 1992; 73(2):767—775.
2. ROHLFS, I C P de M; et al. Relação
da síndrome d excesso de treinamento com estresse, fadiga e serotonina. Rev
Bras Med Esporte vol. 11 nº6 Niterói Nov./Dec. 2005.
3.
VIEIRA, A K. Alterações hormonais,
imunológicas e fisiológicas durante o estado de overtraining. Ver Bras de
Nutrição Esportiva. São Paulo. V. 1, Nº 2, p. 23 – 29. Mar/Abril. 2007.
4. WILLIAMS MB et al. Effects of recovery beverages on
glycogen restoration and endurance exercise performance. J Strength Cond Res. 2003; 17(1):12-9.