domingo, 19 de agosto de 2012

Tecido adiposo: atividade metabólica e inflamatória:


Tecido adiposo: atividade metabólica e inflamatória:
Nos mamíferos existem 2 tipos de adipócitos: os adipócitos branco, que armazenam energia na forma de triglicerídeos (TG),e os adipócitos marrom, que exercem um papel fundamental na produção de calor e na manutenção da temperatura corporal.
                O tecido adiposo é essencial para a manutenção do equilíbrio energético. Os adipócitos são células altamente especializadas no desempenho de funções reguladoras na homeostase. Sua função primária e mais conhecida é a de funcionar como um local de estoque de energia. O acúmulo de calorias na forma de TG é realizado pela insulina, e a liberação dessa energia para a circulação sistêmica na forma de ácidos graxos livres (AGL), durante o jejum é realizada pelas catecolaminas por meio dos receptores beta-adrenérgicos. A diferenciação do adipócito é um processo regulado por diversos genes, como receptor gama ativado pelo proliferador de peroxissomos (PPAR- Y) E CCAAT/Enhancer brinding proetin alfa (C/EBP – α), que determinam a diferenciação adipocitária.
                O tecido adiposo proveniente de animais obesos apresenta significativo aumento no fator de necrose tumoral alfa (TNT-alfa), uma das principais citocinas pró-inflamatórias envolvidas na resposta imune, assim evidenciando uma nova perspectiva sobre a biologia do tecido e mostrando que a obesidade e a resposta inflamatória estão relacionadas.
                O tecido adiposo desempenha importante papel na regulação energética por vias autócrina, parácrina e endócrina. Essas funções possibilitam ao adipócito influenciar a atividade metabólica de outros tecidos como cérebro, hipotálamo, músculo, fígado e células beta pancreáticas. Assim, as células adiposas desempenham uma função muito mais dinâmica do que se julgava, influenciando mecanismos fisiológicos de sua própria diferenciação, crescimento e regulação da homeostasia

COMO OCORRE A REGULAÇÃO DOS DEPÓSITOS DE GORDURA NO TECIDO ADIPOSO BRANCO?
                Os estoques de glicogênio são muito pequenos para abastecer o organismo em situações de jejum, portanto, a gordura acumulada em forma de TG é o estoque de energia alongo prazo. A quantidade de gordura acumulada é o reflexo do equilíbrio entre o consumo e o gasto calórico ao longo do tempo, sendo o conteúdo de TG nos adipócitos um índice do acúmulo de gordura e sua mobilização.
                A insulina estimula a deposição de gordura (lipogênese) ativando a lipoproteína lipase (LPL), que retira ácidos graxos das lipoproteínas ricas em TG; há também, o cortisol, que funciona como hormônio lipogênico em certos locais (gordura troncular) e lipolítico em outros (gordura periférica); as catecolaminas podem estimular a mobilização de gordura via ativação de receptores beta-adrenérgicos, ou inibi-la via ativação de receptores alfa-adrenérgicos. A lipólise é ativada via fosforilação da perilipina (PER). A fosforilação da PER permite que a HSL acesse as gotículas de lipídios, o que resulta na hidrólise do TG em AGL, que serão liberados na circulação.
                A combinação de expansão dos adipócitos e sua capacidade de diferenciação sugerem que a capacidade de estocar energia não tem limite. É provável que a resistência à insulina (RI), em especial à sua ação no adipócito, bloqueie a adiposidade, dificultando a lipogênese e a diferenciação adipocitária e limitando a progressão da obesidade.
                A expansão dos estoques de gordura, em especial a diferenciação celular, depende da disponibilidade de novos vasos sanguíneos. A angiogênese no tecido adiposo parece estar regulada por fatores como a leptina. A inibição da angiogênese em animais pode bloquear o ganho de peso induzido por dieta hipercalórica.
                Nas situações de balanço negativo de energia, existe uma redução dos estoques de TG. Durante este processo há um “esvaziamento” do adipócito até sua morte programada (apoptose). O processo de diferenciação e apoptose de adipócitos desempenha importante papel na homeostasia humana, sendo um vasto campo de pesquisa ainda pouco explorado.
                A deposição de gordura é também estimulada por estímulos nervosos. Tanto a via simpática quanto a parassimpática podem modular a lipólise; podemos considerar a ação simpática como controladora do catabolismo (lipólise) e a via parassimpática, controladora do anabolismo (lipogênese). A importância da regulação e a possível desregulação dessas vias nervosas são pouco conhecidas na espécie humana, mas o seu conhecimento poderá constituir-se em um alvo terapêutico seguro para o tratamento da obesidade.


TECIDO ADIPOSO MARROM:
                O TAM é composto por adipócitos que possuem uma composição molecular única. O citoplasma do adipócito marrom contém inúmeras gotículas de lipídeos (denominado multilocular) e muitas mitocôndrias, as quais são bem desenvolvidas, apresentam grande número de cristas e possuem uma proteína singular, específica do TAM, denominada proteína desaclopadora 1 (UPC1). Diferente da gordura branca, que é pouco vascularizada, o TAM é altamente vascularizado, fenômeno resultante da alta expressão de fatores angiogênicos.
                Até recentemente, não existiam evidências concretas da presença de quantidades significativas de TAM em humanos adultos, na região cervicossupraclavilcular.  A análise de biopsias destes tecidos detectou a presença de PRDM16, receptor alfa ativado por proliferador do peroxissomo (PGC1-α) e UPC1, proteínas específicas de TAM. Portanto, hoje se acredita que humanos adultos apresentam quantidades significativas de TAM.  
                A principal função do TAM é produzir calor, um processo também conhecido como termogênese. Ao contrário do TAB, que acumula energia na forma de TG, o TAM utiliza a energia destes para converter em calor; o no frio, o TAM contribui com 60 a 70% do calor produzido.
                A situação da produção de calor no TAM está associada ao aumento do número e da atividade das mitocôndrias, um fenômeno  controlado pelo coativador do receptor ativado por peroxissomo, o PGC1- α. O PGC1- α tem sua expressão elevada durante a exposição ao frio e interage com fatores trasncricionais. A presença de PGC1 – α é essencial para o processo termogênico no TAM.
                O principal mecanismo de produção de calor no TAM decorre da atividade da UPC1, uma proteína presente na membrana mitocondrial interna. Essa proteína atua desacoplando a gradiente de prótons gado pela fosforilação oxidativa da síntese de trifosfato de adenosina (ATP). Acredita-se que, por este mecanismo, a UPC1 dissipe, na forma de calor, a energia contida no gradiente eletroquímico que seria utilizada para sintetizar ATP.
                A ativação do desacoplamento mitocondrial e da termogênses no TAM depende da ação conjunta do sistema adrenérgico (catecolaminas) e dos hormônios tiroidianos. A ação das catecolaminas, principalmente a norepinefrina, é mediada pelos receptores β3-adrenérgicos, que são altamente expressos na membrana dos adipócitos marrons. A ativação dos receptores β3 promove o aumento da termogênese no TAM por 2 mecanismos relacionados com a produção de cAMP. Em 1 deles, o cAMP ativa prteinoquinase A, que por sua vez fosforila um fator de transcrição denominado elemento de ligação (CREB), que vai até núcleo e ativa a desiodase tipo 2 (D2) – enzima que converte o hormônio tiroidiano T4 em T3, a forma ativa, e o da UPC1. O aumento dos níveis de T3 gerados pela D2 também contribuem para ativação da expressão da UPC1 e dos próprios receptores adrenérgicos, portanto ampliando esta sinalização. O aumento de cAMP também promove a ativação da lipólise, elevando os níveis de ácidos graxos, que, por sua vez, estimulam diretamente a atividade da UPC1, aumento sua permeabilidade a prótons.
                Por sua alta atividade metabólica, o TAM é um tecido determinante do peso corporal. A recente identificação do TAM em humanos adultos revitalizou o estudo desse tecido, principalmente no que se refere as suas propriedades antiobesidade, então, o aumento da atividade desse tecido no organismo poderia contribuir para a diminuição do peso corporal.

 Retirado do livro: R.B – Tratado de Obesidade; Manciini M. C. et all, 2010.